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Por Luciana Albuquerque e Marcelo Parreira, TV Globo — Brasília


O deputado Valdir Colatto (MSB-SC), novo chefe do Serviço Florestal Brasileiro — Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, anunciou nesta quarta-feira (16) em uma rede social que o deputado Valdir Colatto (MDB-SC) será o novo chefe do Serviço Florestal Brasileiro.

Ao colunista do G1 Matheus Leitão, contudo, Colatto disse ter ficado "surpreso" com o anúncio, acrescentando que "não fechou a questão" e ainda analisa o tema.

Integrante da Frente Parlamentar Agropecuária do Congresso, conhecida como a bancada ruralista, Colatto não se reelegeu em outubro e já fez discursos críticos ao percentual de terra que deve ser preservado por fazendeiros.

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Título: Deputado federal Valdir Colatto, do MDB, é anunciado para o Sistema Florestal Brasileiro
Subtítulo: Jornal da Globo
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Deputado federal Valdir Colatto, do MDB, é anunciado para o Sistema Florestal Brasileiro

"Hoje conversei com servidores do Serviço Florestal Brasileiro para responder algumas perguntas em relação a competências e carreiras. O serviço florestal será comandado pelo deputado Valdir Colatto e o decreto já foi publicado", publicou a ministra.

Após o anúncio de Tereza Cristina, a assessoria de Colatto divulgou a seguinte nota:

"O deputado federal Valdir Colatto (MDB-SC) informou que recebeu convite da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, para o cargo de diretor geral do Serviço Florestal Brasileiro no dia de hoje (16/1). Colatto cumpre mandato de deputado federal até o dia 31 de janeiro. Ele acredita que o seu trabalho na criação e aprovação do Novo Código Florestal Brasileiro (12.651/2012), o maior programa de preservação ambiental e reflorestamento do mundo, o credencia para o convite."

Criado em 2006, o Serviço Florestal Brasileiro era vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, mas desde 1º de janeiro, quando o presidente Jair Bolsonaro editou uma medida provisória (MP) para reestruturar o governo, o serviço passou a ser vinculado à pasta da Agricultura.

De acordo com o site do órgão, cabe ao SFB "promover o conhecimento, o uso sustentável e a ampliação da cobertura florestal, tornando a agenda florestal estratégica para a economia do país".

Cobertura florestal

Em 7 de fevereiro do ano passado, Colatto fez um discurso no qual criticou o percentual de preservação de terra nas fazendas.

"No Brasil, 20,5% da área das propriedades são de florestas. O agricultor paga essa conta sem que haja nenhum dividendo com a cidade. Quem é que deixa 20%, 35% ou 40% da sua propriedade, na área urbana, para a preservação do meio ambiente? Só a agricultura brasileira faz isso", afirmou o deputado na ocasião.

Em outro discurso, em 11 de dezembro do ano passado, o novo chefe do Serviço Florestal Brasileiro disse que "66% das florestas no Brasil não são nada".

Afirmou, ainda, que o Brasil precisa "refletir" sobre as atuais regras de preservação.

"Nós temos que pensar que 66% das florestas no Brasil não são nada se compararmos com as da Europa, que não chegam a ter 0,5% de floresta. E eles ainda querem dizer o que devemos fazer aqui? Ora, se quiserem que mantenhamos nossas florestas, que nos paguem com serviços ambientais, como fazem os Estados Unidos e a Europa, onde quem preserva a floresta recebe por isso", declarou.

Dados contestados

O engenheiro florestal Tasso Rezende de Azevedo, coordenador do MapBioma e ex-diretor Serviço Brasileiro Florestal, afirma que a cobertura florestal da Europa é muito maior do que 0,5% e, em alguns países, como Finlândia, passa de 70%. "O mundo todo tem 4 bilhões de hectares de floresta. Ao todo, 3 bilhões são florestas temperadas, ou seja, Europa, Rússia, EUA e Canadá." De acordo com um relatório do Gabinete de Estatísticas da União Europeia (Eurostat), de 2017, as florestas ocupavam 42% das terras dos países da UE.

A cobertura de vegetação no Brasil é de pelo menos 67% do território, sendo 63% de florestas e 4% de vegetação nativa, como os campos gaúchos, segundo o MapBioma, o maior levantamento sobre o assunto já feito no país, que abarca o período de 1985 a 2017. Segundo Tasso Azevedo, quando se considera apenas a vegetação preservada (aquilo que era floresta em 1985 e não sofreu alteração até 2017), a cobertura passa para 48% do território brasileiro. Este número não considera áreas, por exemplo, que foram desmatadas e abandonadas, mas onde a vegetação voltou a crescer.

Responsável pela primeira estruturação do Serviço Florestal, Azevedo criticou a escolha de Valdir Colatto para o cargo. "O Serviço Florestal foi criado para ser uma organização técnica, de alta capacidade técnica. Todos os dirigentes e funcionários, desde sua criação, em 2006, têm que ter alta capacidade técnica. Foi assim com todos os dirigentes. Se fazia comitê de busca para buscar os melhores profissionais. O que é o espanto é a gente ter abandonado isso num governo que diz que quer ter gente técnica para trabalhar."

Antes de aceitar o cargo, Colatto afirmou saber que o órgão é estratégico, o que exige conhecimento técnico especifico. "Primeiro, eu também sou um técnico. Engenheiro agrônomo. Conheço muito bem a área ambiental. Pratico meio ambiente de resultado e não de discurso. Fui autor do projeto do código florestal brasileiro, aprovado pelo Congresso", disse ele ao blog de Matheus Leitão.

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