Paulo Stuart Wright
Paulo Stuart Wright

Sociólogo, natural de Joaçaba/SC, Deputado Estadual no Parlamento Catarinense, século XX.

Informações Gerais

Filiação
Lothan Ephrain Wright e Maggie Belle Wright
Nascimento
02/07/1933
Local de nascimento
Joaçaba/SC
Formação
Sociologia
Partido
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e Partido Social Progressista (PSP)

Paulo Stuart Wright

Nasceu em 2 de julho de 1933, no distrito de Herval, na época pertencente ao município de Joaçaba/SC. Filho dos missionários presbiterianos estadunidenses Maggie Belle Wright e Lothan Ephrain Wright. Casou com Edimar Rickli, com quem teve João Paulo e Leila Cristina.

Na terra natal, fez os primeiros estudos na escola mantida pelo seu pai, foi aluno interno no Colégio de Piratuba/SC e concluiu o curso científico no Instituto Metodista de Passo Fundo/RS. 

Se mudou para Arkansas, nos Estados Unidos da América, onde se formou em Sociologia e Política. Durante o período de férias do doutorado em Sociologia, exerceu atividades na construção civil em Los Angeles, para melhor compreender as condições de trabalho dos operários, causa que o preocupava. 

Pelo fato de ser filho de estadunidenses, foi convocado para servir na Guerra da Coréia. Devido a sua posição contrária ao conflito e o risco de perder a cidadania brasileira, deixou os EUA e passou então a ser procurado pelo Departamento Federal de Investigação (FBI). Retornou ao Brasil sem concluir a pós-graduação.

No Brasil, já casado, tirou sua carteira profissional e registrou a profissão de servente. Junto da esposa dedicou-se a um projeto da Igreja Presbiteriana nas fábricas de São Paulo/SP.

De volta à terra natal, exerceu atividade de torneiro mecânico em uma pequena indústria. Contribuiu com a fundação do sindicato dos metalúrgicos e apoiou a organização dos trabalhadores da construção civil e da indústria do papel e papelão. Neste período ganhou a fama de socialista, por sua dedicação as causas operárias. 

Posteriormente, retornou a São Paulo, onde foi operário da Lambretta do Brasil, associou-se ao Sindicato dos Metalúrgicos e lecionava sociologia no Instituto Metodista. 

Ingressou no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e por este foi candidato ao cargo de Prefeito de Joaçaba, em 1960. Não foi eleito por 11 votos. 

Ainda em 1960, exerceu a função de Secretário Regional da União Cristã de Estudantes do Brasil. Na militância do PTB, participou do Congresso Regional de Solidariedade à Revolução Socialista de Cuba e da divulgação de um manifesto em apoio ao povo e ao governo cubano. 

Em 1961, diante da tentativa de impedir a posse do Presidente eleito João Goulart, lutou junto às forças de resistência ao golpe, à favor da legalidade e da posse de Goulart. 

Se mudou para Florianópolis/SC, onde foi nomeado Diretor da Imprensa Oficial do Estado e auxiliou a estruturar a Federação das Cooperativas de Pesca (FECOPESCA), uma união de 27 cooperativas de pescadores atuantes no litoral catarinense. 

Deixou o PTB, se filiou ao Partido Social Progressista (PSP) e foi eleito Deputado Estadual na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, com 2.144 votos - o único eleito do partido, e tomou posse à 5ª Legislatura (1963-1967). 

Durante toda sua atuação parlamentar foi chamado de comunista por sua ligação com movimentos populares e operários. Defendia com veemência a FECOPESCA e denunciava velhas práticas. Logo sua presença incomodou outros parlamentares. Teve sua morte encomendada por um colega parlamentar, conseguiu livrar-se, mas o caso nunca foi investigado pela Casa.

Com a instauração do Regime Militar em 1964, a Assembleia Legislativa catarinense buscou demonstrar sua adesão ao novo regime e sob a pressão dos militares iniciou o processo de cassação do mandato de Paulo Stuart, considerado subversivo. Foi cassado sob a alegação de “quebra de decoro parlamentar”, em 9 de maio de 1964. Apenas Genir Destri e Antônio Pichetti votaram em defesa do Deputado joaçabense. O PTB, partido do presidente da República deposto, João Goulart, votou a favor da cassação. Paralelamente, o conselho da Igreja Presbiteriana retirou-o do quadro de membros da congregação. 

Exilou-se no México e em Cuba, retornou ao Brasil no ano de 1965, passando a viver clandestinamente com o uso de codinomes. Tornou-se dirigente nacional da Ação Popular (AP), movimento criado por egressos dos movimentos estudantis cristãos banidos. Segundo documentos dos órgãos de segurança, foi representante oficial da AP na reunião da Organização Latino-Americana de Solidariedade, realizada em Havana, Cuba, em 1967. Viveu oito anos na clandestinidade.

Nos primeiros dias de setembro de 1973, foi sequestrado pelo II Exército e levado ao DOI-CODI de São Paulo, onde há suspeita que foi morto sob tortura nas primeiras 48 horas de cárcere. 

Sua família tomou inúmeras iniciativas para a solução do seu desaparecimento, inclusive recorreu ao Congresso dos Estados Unidos, que solicitou explicações. As autoridades brasileiras nunca confirmaram sua prisão e seu corpo até os dias de hoje não foi localizado.

Oficialmente, está desaparecido desde 1º de setembro de 1973. A professora e historiadora, Derlei Catarina de Luca, que conheceu Paulo, fundou o Comitê Catarinense Pró-Memória dos Mortos e Desaparecidos, o Coletivo Catarinense Memória Verdade e Justiça, e que por mais de 40 anos lutou para esclarecer fatos sobre ele e sobre o período da ditadura no Estado, “descobriu que Paulo Wright foi morto na Boate Querosene, em Itapevi (SP), nos primeiros dias de setembro de 1973, por uma equipe da qual faziam parte o capitão Enio Pimentel da Silva, o capitão Freddie Perdigão Pereira, o sargento Roberto Artoni, o sargento João de Sá Cavalcanti Netto e o capitão André Leite Pereira Filho. O agente Walter Lang, conhecido como Alemão, estava na equipe que sequestrou Wright no trem e foi quem, segundo Derlei, deu sumiço no corpo, provavelmente decapitado e jogado num rio próximo à antiga boate usada para liquidar os inimigos do regime” (SCHMITZ, 2017).

Em 1993, a Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina, numa tentativa de reverter o triste episódio que retirou seu mandato, devolveu a cadeira de Paulo, em ato post-mortem.

Em sessão especial ocorrida em 13 de agosto de 2019, a Assembleia Legislativa catarinense restituiu, de modo simbólico, o mandato do Deputado Paulo Stuart Wright e de outros que tiveram seus mandatos cassados pelo regime militar na década de 1960.

Homenagens

  • Personalidades do Parlamento, série de reportagens com figuras históricas que foram homenageadas com a nomeação dos espaços da ALESC, no caso do Deputado Paulo Stuart Wright, o Plenarinho.
  • Plenarinho Deputado Paulo Stuart Wright, da Assembléia Legislativa catarinense.
  • Livro O Coronel tem um segredo: Paulo Wright não está em Cuba, 1993.
  • Livro Notas de um desaparecido - Paulo Stuart Wright, 2014.
  • Medalha de Mérito Antonieta de Barros, 2001.
  • Nomes de ruas em sua homenagem nos municípios de: Criciúma/SC, Curitiba/PR, Florianópolis/SC, Porto Alegre/RS e Rio de Janeiro/RJ.
  • Rodovia Paulo Stuart Wright, de acesso a Penha/SC.
  • Recebeu da Assembleia Legislativa catarinense, em 1999 e 2014, homenagem pela legislatura exercida e reconhecimento a sua memória e trajetória política, respectivamente.
  • Cidadão Wright: uma história de luta, perseguição e morte na ditadura militar. (documentário) Disponível em: https://goo.gl/rqKEcp
  • PSW - Uma crônica subversiva, 1987 (curta metragem).

Informações adicionais

Trecho de carta escrita por Paulo Wright à esposa Edi, 1970:

Diante de tanta injustiça e miséria que vemos no mundo e da opressão generalizada aos necessitados, proclamar-se inocente é inconcebível para quem busca servir a Cristo. Querer ser inocente é aceitar as regras da injustiça, é aceitar passivamente a opressão, é não ter feito nada pelos que sofrem. Creio que é impossível ser cristão e não ser subversivo da ordem vigente, de ser fiel a quem trata de derrubar toda a autoridade, como nos fala São Paulo.”

Na reportagem “Os matadores - ISTOÉ revela nomes de militares que exterminaram guerrilheiros em operações secretas, vivem na clandestinidade e sabem onde estão os corpos”. A revista trás o seguinte trecho sobre a perseguição sofrida por Paulo: 

Comandando uma rede de informantes do CIE, Doutor César e Doutor Pablo, segundo Marival, também foram responsáveis pelo planejamento e execução de uma megaoperação em inúmeros pontos do País para liquidar, a partir de 1973, os militantes das várias tendências da Ação Popular (AP), movimento de esquerda ligado à Igreja Católica. Segundo o ex-agente, entre os mortos estão Fernando Santa Cruz Oliveira, Paulo Stuart Wright, Eduardo Collier Filho e Honestino Monteiro Guimarães, militantes da Ação Popular Marxista-Leninista (APML), movimento dissidente da AP. Irmão do reverendo Jaime Wright, Paulo Stuart foi preso e morto em São Paulo, em 1973. Os demais militantes também tombaram naquele ano e em 1974, no Rio. Antes de morrer, Honestino disse a amigos que estava sendo caçado pelos órgãos de informação do Exército em todo o País” (ISTOÉ, 2004).

Imagens

Recortes de jornais, com a informação de que Paulo Stuart Wright, brasileiro descendente de norte-americanos, durante muito tempo foi dado como desaparecido, anos depois um boletim informativo do Ministério do Exército, dá conta que ele, assim como outras centenas de democratas foi morto durante a ditadura militar brasileira.

Recorte de jornal com informação de que mais de 50 senadores norte-americanos, incluindo Kennedy, solicitaram esclarecimentos junto ao Departamento de Estado sobre o desaparecimento de Paulo Stuart.

Foto 1 - Paulo Stuart Wright
Fonte: Instituto Paulo Stuart.
Foto 2 - Paulo Stuart Wright
Fonte: Instituto Paulo Stuart.
Foto 3 - Paulo Stuart Wright
Fonte: Instituto Paulo Stuart.
Foto 4 - Paulo Stuart Wright
Fonte: Reprodução/ND.
Documento da Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública com carimbo de ‘DESAPARECIDO”
Fonte: Instituto Paulo Stuart.

Mandatos

Referências

A NOTÍCIA. Deputado perseguido foi cassado na Assembléia Legislativa catarinense por não usar gravata. 2013. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rNjgyODU=>. Acesso em: 23 jan. 2019.

A VERDADE. Paulo Wright, cristão e subversivo. 2011. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rNjgyMjA=>. Acesso em: 22 jan. 2019.

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE SANTA CATARINA. Centro de Memória. Arquivos das Legislaturas: de 1835 a 2018.

COLETIVO MEMÓRIA, VERDADE E JUSTIÇA DE SANTA CATARINA. Paulo Stuart Wright. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rNjgxNzM=>. Acesso em: 22 jan. 2019.

CORREIOS/CEP. busca "Paulo Stuart Wright". Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rNjgxODY=>. Acesso em: 22 jan. 2019.

GOMES, Iur; SOARES, Regina Maura (Org.). Notas de um desaparecido: Paulo Stuart Wright – o mundo, o sujeito e o tempo. Florianópolis: IPSW, 2014. 1 p.

INSTITUTO PAULO STUART WRIGHT. Biografia. 2016. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rNjgyNDY=>. Acesso em: 22 jan. 2016.

MEMÓRIAS DA DITADURA. Paulo Stuart Wright. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rNjgyNTk=>. Acesso em: 22 jan. 2019.

MOCELIN, Carlos Eduardo. Cidadão Wright: uma história de luta, perseguição e morte na ditadura militar. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rNjgxMzQ=>. Acesso em: 22 jan. 2019.

NOTICIAS DO DIA. Catarinense Paulo Stuart Wright é o único deputado cassado pelo regime em Santa Catarina. 2014. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rNjgyNzI=>. Acesso em: 22 jan. 2019.

PIAZZA, Walter F. Dicionário Político Catarinense. Florianópolis: Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, 1994. 714 p.

PIAZZA, Walter F. O Poder Legislativo Catarinense: das suas raízes aos nossos dias 1834-1984. Florianópolis: Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, 1984. 584 p.

SANTA CATARINA. Agência AL. Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Parlamento catarinense faz homenagem a Paulo Stuart Wright, deputado que desapareceu no período da ditadura. 2014. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rNjgxNDc=>. Acesso em: 22 jan. 2019.

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SCHMITZ, Paulo Clóvis. Esclarecimento sobre morte de Paulo Stuart Wright e indenização não apagam dor da família. 2017. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rNjgxNjA=>. Acesso em: 22 jan. 2019.

STOETERAU, Lígia de Oliveira. A Trajetória do Poder Legislativo Catarinense.. Florianópolis: IOESC, 2000. 446 p.

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL. Resenha Eleitoral - Eleições Catarinenses 1945-1998. 2001. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rNjI2OQ==>. Acesso em: 30 nov. 2017.

VERMELHO. Paulo Wright não está em Cuba. 2013. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rNjgyMzM=>. Acesso em: 22 jan. 2019.

Como citar este documento
Referência

MEMÓRIA POLÍTICA DE SANTA CATARINA. Biografia Paulo Stuart Wright. 2023. Disponível em: <https://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/biografia/788-Paulo_Stuart_Wright>. Acesso em: 28 de março de 2024.

Citação com autor incluído no texto

Memória Política de Santa Catarina (2023)

Citação com autor não incluído no texto

(MEMÓRIA POLÍTICA DE SANTA CATARINA, 2023)

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