Álvaro Ventura
Álvaro Ventura

Estivador e sindicalista, natural de São José/SC. Deputado Federal Classista por Santa Catarina, século XX. Um dos fundadores do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em Santa Catarina, líder e militante entre os anos de 1920 e 1960, várias vezes preso.

Informações Gerais

Nome completo
Álvaro Costa Ventura Filho
Filiação
Bernardino e Jesuína
Ano nascimento
1893
Local de nascimento
São José/SC
Falecimento
10/07/1989
Profissão
Estivador
Partido
Partido Comunista Brasileiro (PCB) e Partido Republicano Catarinense (PRC)

Álvaro Ventura

Nasceu em setembro de 1893, em São José/SC (próximo do atual município de Florianópolis). Filho de Bernardino e de Jesuína. Casou com Eliza Arseno Espíndola, com quem teve o filho João Ventura, nascido em 1926. A esposa de Álvaro faleceu em 1969.

Inicialmente, trabalhou como tropeiro, conduzindo gados e mercadorias do interior para o litoral de Santa Catarina. Depois, mudou-se para São Paulo/SP, onde trabalhou como padeiro e se integrou ao movimento anarquista, defensor de pautas reivindicativas dos trabalhadores, entre elas, redução da jornada diária de trabalho e a melhoria nas condições de vida da classe operária. Como sindicalista, participou de diversas greves em Florianópolis e São Paulo.

Na cidade natal, foi preso em 1910, por reivindicar a jornada de 8 horas de trabalho. Em São Paulo, no ano de 1914, foi detido e deportado para Mato Grosso, por participar de uma greve de padeiros. Nesse período, trabalhou em uma fazenda da Companhia Mate-Laranjeira e participou de manifestações contra a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). O governo brasileiro adotou medidas de repressão aos movimentos anarquistas e operários. 

Em Santa Catarina, Álvaro se filiou ao Partido Republicano Catarinense (PRC) e apoiou a campanha eleitoral de Lauro Müller ao governo do Estado catarinense, e de Hercílio Luz, seu Vice, eleitos para mandato de 1918-1922.

Em 1924, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), partido que fundou e ajudou a entrar para a política catarinense. 

Presidiu a União dos Operários Estivadores de Florianópolis e foi presidente da Federação Regional dos Sindicatos de Florianópolis (FRSF). Em 1932, esteve à frente do movimento pela sindicalização em Florianópolis, São José e Biguaçu, coordenando pela FRSF, e lutou pela organização sindical e oficialização das associações.

Nas eleições realizadas em 20 de julho de 1933, como Delegado-eleitor da União dos Operários Estivadores de Florianópolis, concorreu a uma das vagas de Deputado Classista (representante das associações profissionais dos empregados) à Câmara dos Deputados, após intensa campanha nas portas das fábricas, principalmente nos municípios de Florianópolis, São José, Biguaçu e Palhoça, recebeu 143 votos e a segunda suplência de Deputado.

Com o falecimento do Deputado Classista titular, Antônio Pennafort de Souza, assassinado em 27 de agosto de 1934, Álvaro foi convocado, tomou posse à 36ª Legislatura (1933-1935) e exerceu mandato ordinário até o final da legislatura na Câmara dos Deputados, já que o primeiro suplente, Mário Bastos Manhães, havia assumido a vaga de Ênio Lupage - que teve a anulação do seu diploma, por não ter a idade mínima exigida pela legislação eleitoral. 

Na Câmara, Álvaro (único representante do PCB) pronunciou-se sobre “o Partido Comunista do Brasil, secção da Internacional Comunista, único partido que luta verdadeiramente em defesa dos interesses do proletariado e das massas populares, desmascara essas manobras, desvenda seu conteúdo de classe e aponta o caminho para todos os explorados e oprimidos se libertarem da insuportável situação de miséria em que vivem: o caminho da luta de classes revolucionária contra a fome, a guerra imperialista, os golpes armados, a reação e o fascismo – pelo pão, pela terra e pela liberdade”, (VENTURA, Álvaro apud MARTINS, op. cit., p. 56.).

No Parlamento Catarinense, denunciou as condições dos trabalhadores, nominou os burgueses que exploravam os trabalhadores e colegas que não lutavam. Foi advertido pela Mesa Diretora por sua conduta, ameaçado de perda do mandato e seus discursos não foram registrados nos anais da Casa; porém publicados em jornais.

Em 1934, foi organizada a Liga dos Trabalhadores de Santa Catarina, formada por trabalhadores que concorreram nas eleições proporcionais à Constituinte Estadual, que reunia nomes associados ao comunismo no Estado. Em 1935, alguns apoiaram o levante da Aliança Libertadora Nacional (ALN) e vários foram presos, entre eles Álvaro Ventura - foi enviado para o Rio de Janeiro. 

Durante o Estado Novo (1937-1946), viveu na clandestinidade devido à forte repressão, prisões, torturas e assassinatos de comunistas. Com a reorganização nacional do PCB em 1943, foi Secretário Geral do partido, de 1943 a 1945. 

No ano de 1945, pelo PCB, disputou o cargo de Senador por Santa Catarina, obteve 1.638 votos, nas eleições vencidas por Nereu Ramos e Ivo d'Aquino, ambos do Partido Social Democrático (PSD). No mesmo ano, candidatou-se a Deputado Federal para representar os catarinenses, porém, com 895 votos, não alcançou o posto. Época em que o PCB era atacado e seus representantes tidos como ameaça legalizada. 

Após 1946, com o fim do Estado Novo, foi Delegado do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos (IAPM), no Rio de Janeiro.

Nas eleições de 1947, foi candidato a Deputado Estadual à Assembleia catarinense, mas não se elegeu (recebeu 895 votos), sendo que 21 eleitos eram do PSD.

Para combater o comunismo no Brasil, denúncias a parlamentares do PCB e contra o partido são apresentadas ao Supremo Tribunal Federal em maio de 1947. Logo o partido tem cassado seu registro e volta à ilegalidade, militantes são presos e outros se abrigam em outras legendas.

Com os direitos políticos suspensos por conta do Ato Institucional nº 1, instituído pelos militares em 9 de abril de 1964, Álvaro passou a gerenciar sua oficina mecânica no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro.

Em Santa Catarina, durante algum tempo foi responsável pelo jornal Unidade: em defesa dos interesses do povo, porta-voz do PCB, que teve sua primeira edição em 22 de setembro de 1952 e Aldo Pedro Dittrich,como um dos fundadores e editor-chefe, entre outros. A última publicação data de 15 de dezembro de 1959.

Faleceu no dia 10 de julho de 1989, aos 96 anos.

Homenagem

Placa de Prata, in memoriam, entregue ao seu representante, em sessão especial na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (ALESC), em 2012, nas comemorações dos 90 anos do Partido Comunista do Brasil, foi homenageado como um comunista histórico, por sua luta em busca de um país democrático e soberano, por uma sociedade justa e igualitária.

Imagem

Foto de Álvaro Ventura, escaneada da capa da obra de Celso Martins, Os Comunas 
Fonte: La Chascona (blog), 2011.

Mandatos

Referências

COELHO, Eduardo Teixeira. Os Trabalhadores Catarinenses e a Experiência da Representação das Associações Profissionais nos anos 1930. 2010. 245 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de História, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rNzU3Mjg=>. Acesso em: 15 mar. 2019.

CPDOC. Fundação Getúlio Vargas. Verbete Biográfico: Álvaro Costa Ventura Filho . Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rODgwNDI=>. Acesso em: 28 mai. 2019.

CPDOC. Fundação Getúlio Vargas. Verbete Biográfico: Mário Bastos Manhães. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rODgwNTU=>. Acesso em: 28 mai. 2019.

GARAPUVU WORDPRESS. Os Comunas. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rODgwNjg=>. Acesso em: 28 mai. 2019.

LENCINA, Daiana Castoldi. Camarada Aldo Pedro Dittrich: Trajetória Profissional, Política e Repressão (1950-1964). 2011. 164 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de História, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2011. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rNzU3NDQ=>. Acesso em: 15 mar. 2019.

MARTINS, Celso. Os Comunas: Álvaro Ventura e o PCB catarinense. Florianópolis: Paralelo 27 / Fundação Franklin Cascaes, 1995. 192 p.

PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO - PCB. As origens de Álvaro e dos Ventura. 2012. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rODgwMjk=>. Acesso em: 28 mai. 2019.

RODRIGUES, Natália. Estado Novo. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rNjA0MzI=>. Acesso em: 21 mai. 2017.

SANTA CATARINA. Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Diário da Assembleia: Nº 6396. 2012. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rODgwMTY=>. Acesso em: 15 mar. 2019.

SANTA CATARINA. Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina. Resenha Eleitoral: Eleições Catarinenses 1945-1998. Florianópolis: Comissão Editorial do TRE, 2001. 198 p. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rMzQ2Mw==>. Acesso em: 16 mai. 2018.

SOARES, Maura. Álvaro Soares da Ventura – O Comunista. 2011. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rODgwODE=>. Acesso em: 28 mai. 2019.

SOUSA, Rainer. AI-1. Disponível em: <http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/rODgwMDM=>. Acesso em: 15 mar. 2019.

Como citar este documento
Referência

MEMÓRIA POLÍTICA DE SANTA CATARINA. Biografia Álvaro Ventura. 2022. Disponível em: <https://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/biografia/1358-Alvaro_Ventura>. Acesso em: 28 de março de 2024.

Citação com autor incluído no texto

Memória Política de Santa Catarina (2022)

Citação com autor não incluído no texto

(MEMÓRIA POLÍTICA DE SANTA CATARINA, 2022)

Memória Política de Santa Catarina